Vem da Austrália boa parte das maiores cobranças da responsabilização da China pela COVID-19.
Dias atrás, conforme noticiamos, o senador australiano Malcolm Roberts perguntou retoricamente, em seu perfil no Twitter, se a China deveria pagar indenização por desencadear a doença no mundo. A postagem foi seguida de outra, bem mais direta:
Naquela ocasião também repercutimos o posicionamento de parte da imprensa daquele país, para a qual o Partido Comunista Chinês negligenciou seu dever e precisa ser responsabilizado. De lá pra cá o debate não para de esquentar.
Os protagonistas da vez são o The Daily Telegraph, jornal localizado em Sydney que também tem realizado cobertura bastante crítica da crise causada pelo novo coronavírus, chamando a China à responsabilidade, e o Consulado Geral da República Popular da China na mesma cidade, incomodado com a postura do periódico.
No último dia 1º, o porta-voz do Consulado qualificou as reportagens da cobertura jornalística como ignorantes, preconceituosas e arrogantes, e dirigiu ao jornal dez perguntas (acesse a declaração oficial aqui).

As perguntas foram respondidas na coluna do jornalista Tim Blair no dia 4, tópico-a-tópico, num misto de ironia e humor (confira).

Alguns exemplos do pingue-pongue:
Em reposta à afirmação do Consulado de preconceito – e por aí vai – nas reportagens, o jornal lembrou que, se esse tipo de reclamação fosse endereçada a periódico estatal chinês, nos dias seguintes haveria jornalistas acordando na prisão com seus órgãos ceifados [fatos já ocorridos na China].
Ao responder às afirmações da China de que a origem do vírus ainda é indeterminada, e de que a Organização Mundial da Saúde nomeou o novo coronavírus “COVID-19” [indireta ao jornal, que o chama de “vírus chinês”], o Daily Telegraph afirmou que a OMS faz muitas coisas estúpidas, citando entre elas a indicação de Robert Mugabe, o ditador assassino do Zimbábue, como “Embaixador da Boa-Vontade” da organização.
À pergunta “O seu julgamento [do jornal] se baseia no bem-estar das pessoas ou contém um preconceito ideológico?” o periódico foi incisivo na resposta: “Nós admitidos um preconceito ideológico contra tirania mortal. É uma falha trágica da nossa parte“.
O texto completo pode ser conferido no link mais acima.
As respostas viralizaram – com o perdão do trocadilho – na internet, rendendo outra publicação pela agência de notícias (confira), dedicada a destacar sua grande repercussão, ocorrida inclusive na Índia.
Alguns dias depois, o Consulado Chinês enviou nova declaração ao Daily Telegraph.
Lacônica e ironicamente, ontem (15) o jornalista Tim Blair noticiou o recebimento do texto e afirmou:
“De acordo com as próprias tradições da mídia chinesa de censura e ocultação, a Declaração [do Consulado] foi submetida a revisão de pré-publicação oficial. Fizemos com a ditadura comunista chinesa o que a ditadura comunista chinesa faz com seus próprios cidadãos“.
Então publicou imagem da Declaração chinesa com tarjas pretas sobre algumas palavras, imitando a censura típica de ditaduras. Eis o resultado – engraçado se não fosse trágico:

A cereja do bolo é a formação de frases utilizando palavras extraídas do próprio texto, resultado que não reflete exatamente o que a China pretendia comunicar:
– “(…) a China deveria ser responsabilizada por disseminar a pandemia da COVID-19”;
– “(…) Wuhan, na província de Hubei [China], (…) é o local onde o vírus foi originado”;
– “(…) O inimigo comum da humanidade (…) é (…) a Organização Mundial da Saúde”;
O Consulado Chinês não demorou a responder e, horas depois, publicou em seu site a Declaração integral (acesse aqui). Acrescentou que ficou “chocado” com as “intenções maliciosas” do jornal.
O humor, a verdade e a coragem podem salvar o mundo.
*Imagem da chamada: reprodução do site “Australia-China Relations Institute”.
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